Um protesto coordenado por evangélicos contra o aborto, o casamento gay,
a censura às religiões e à imprensa promete reunir pelo menos 30 mil pessoas na
tarde de quarta-feira (5) em frente ao Congresso Nacional. A manifestação
pacífica é organizada pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória
em Cristo e um conhecido opositor dos movimentos homossexuais. “Nós vamos
descer o bambu, meu filho. O couro vai comer. Vai ser bonito”, disse ele, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
Com a participação de shows com cantores cristãos
e, claro, políticos das bancadas religiosas sobre os caminhões de som, o evento
é aberto a todos os públicos. De acordo com anúncio veiculado em cartazes,
emissoras de TV e na internet, “até ateus” podem participar. Em 2008, milhares
de pessoas protestaram em frente ao Congresso contra projetos apoiados pela
comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e
transgêneros).
A manifestação promete ser o primeiro
grande ato contra a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
que obriga os cartórios de registro a reconhecer a união civil entre pessoas do
mesmo sexo e celebrar o casamento homoafetivo. Parlamentares da bancada
evangélica não gostaram da decisão por entender que a determinação deveria
partir do Congresso. O PSC pediu a derrubada da ordem ao Supremo Tribunal Federal
(STF), mas o recurso acabou arquivadopelo ministro Luiz Fux.
Ativismo
O deputado João Campos (PSDB-GO), ex-presidente da
Frente Parlamentar Evangélica, disse que a expectativa é de que 100 mil pessoas
estejam no local. Ele afirmou que espera que “quase todos”, até os mais
discretos membros da bancada evangélica, como Benedita da Silva (PT-RJ),
estejam sobre caminhões de som. “Você sabe como político é”, lembra o deputado.
O tucano diz que setores do PT tentam colocar uma “mordaça na imprensa”, a
propor a regulação da mídia, e nas religiões. “O Estado laico não é o religioso
nem o antirreligioso. É o que garante a liberdade de crença”, disse ele.
Ele afirmou ser contra o casamento gay por não
considerar a situação de foro íntimo. “Namorar uma pessoas do mesmo sexo, morar
junto, é do foro íntimo, mas consagrar isso como instituto da sociedade, não”,
disse Campos. “O Congresso não deliberou porque esse não é o desejo da
sociedade”, disse. Para o deputado, um dos problemas da união entre pessoas do
mesmo sexo é a adoção de crianças por parceiros homossexuais. “A psicologia diz
que o primeiro elemento que amplia a visão de mundo delas é a figura do pai. Há
um prejuízo para a formação da criança.”
Campos entende que a decisão do CNJ
não é o mais importante mote do protesto, embora o Judiciário e o Ministério
Público também sejam alvo dos evangélicos. “Mas não vamos perder a oportunidade
de exteriorizar nossa insatisfação com esse ativismo do STF, do CNJ e do CNMP
[Conselho Nacional do Ministério Público].” Outro alvo da manifestação é o
Projeto de Lei 122/06, que transforma a homofobia em crime. Ontem (4), o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PDMB-AL), anunciou que a proposta deve
ter sua tramitação acelerada na Casa.
Pressão sobre Dilma
Um dos coordenadores da Frente
Parlamentar dos Direitos Humanos, Domingos Dutra (PT-MA) disse que a
manifestação deveria ser mais propositiva. Para ele, o protesto tem como alvo
também a presidenta Dilma Rousseff. “Além de uma pauta conservadora, tenta
expor sua força para amedrontar a presidenta Dilma, às vésperas do pleito
eleitoral”, analisa o deputado, em entrevista ao site. Malafaia negou a
interpretação de Dutra: “Ele não sabe o que está falando. Ouviu o passarinho
cantar e nem sabe o nome dele.” Veja a entrevista
Ele criticou o avanço das igrejas evangélicas ao
retirar fieis da igreja católica por meio de meios de comunicação. “Têm usado a
mídia e o charlatanismo”, afirmou Dutra. O deputado citou um exorcismo de uma
pessoa na Igreja Universal do Reino de Deus, que, para ela, tratava-se de uma
pessoa com fome. “E não tira [o demônio] de graça. Atrás dessas ações estão
sempre presente o dízimo.”
Nascituro
O protesto está marcado para às 15h,
horas depois da sessão da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara que
tem como item na pauta o Estatuto do Nascituro. A proposta dá direitos aos embriões
em formação como forma de inibir os abortos e cria a “bolsa estupro”, ajuda
financeira para mães que optarem por ter as crianças mesmo após a violência
sofrida. Pela lei brasileira, em caso de estupro, a mãe tem o direito de
abortar o bebê. “Estamos trabalhando para aprovar”, disse ao Congresso em
Foco o presidente de honra da bancada
evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO).
MOTIVOS PARA PROTESTAR
A favor de…
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Significa ser contra…
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Liberdade de expressão
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Debates sobre projeto de lei para controlar a mídia, defendido por
setores do PT, embora rejeitados pelo governo Dilma Rousseff.
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Liberdade religiosa
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Projeto de Lei 122/2006 no Senado, que torna crime a discriminação
contra os homossexuais. Os religiosos dizem que a proposta os proíbe chamar o
homossexualismo de pecado.
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Família tradicional
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A favor da família formada por homem, mulher e filhos. Contra o
casamento gay, aprovado pelo Conselho Nacional de Justiça em maio, sem passar
por projeto de lei no Congresso Nacional. Contra a adoção de crianças por
pessoas do mesmo sexo.
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Vida
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Ampliação das possibilidades de aborto, como defendido no projeto de
lei no novo Código Penal em tramitação no Senado. Contra a eutanásia e a
ortotanásia.
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