Em
2009, durante as reuniões preparatórias para a Conferência de Clima de
Copenhague (COP-15) com o presidente e os ministros, um dos mais importantes
argumentos que justificaram a importância de termos metas de redução de
emissões de gases de efeito estufa foi a nossa vulnerabilidade às mudanças no
regime hídrico em cenários de aumento da temperatura média global superior a
dois graus.
Uma
apresentação preparada pela equipe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) alertava para impactos intensos e abrangentes como o recrudescimento dos
períodos de seca no Nordeste brasileiro, a possível perda de até 30% do
potencial de geração das hidrelétricas existentes na Região Sudeste,
insuficiência de água para abastecimento em grandes metrópoles e perda de
potencial de produção agrícola.
Muito
antes do que se imaginava, estamos vivendo todos estes impactos de uma só vez.
O rebanho bovino foi reduzido em dois milhões de cabeças de gado no Nordeste em
2012 devido à seca, os reservatórios de água estão no nível mais baixo da
história em São Paulo, as perdas de safras de grãos e frutas já estão sendo
contabilizadas, e o sistema hidrelétrico está literalmente pedindo água. As
consequências econômicas deste estresse podem ultrapassar os R$ 100 bilhões em
2013 e 2014.
Neste
momento, o que mais se ouve é tratar o problema da escassez como uma fatalidade
do clima, com o verão mais quente ou o período de estiagem mais atípico das
últimas décadas. Mas o que já se demostrava em 2009 é que estes eventos serão
cada vez mais reincidentes.
De
fato, países com regimes hídricos muito menos favoráveis que o nosso, como
Israel ou México, estão muito mais preparados para conviver com a escassez.
O
problema não é a falta de água, mas a gestão sustentável deste recurso
precioso. A aparente abundância de recursos hídricos nos tornou lenientes e
dependentes do modelo linear de captação-uso-coleta de esgoto-retorno ao curso
d'água. Este modelo não se sustenta, é fundamental um regime que aumenta a água
em circulação no sistema através de sistemas inteligentes de recirculação,
tratamento e reúso. Acima de tudo, devemos tratar a água como recurso escasso e
promover a todo custo o seu uso eficiente. Precisamos resgatar e revitalizar a
política nacional de recursos hídricos.
O
tema da gestão da água ilustra o quão fundamental é a incorporação da
sustentabilidade como princípio fundamental e inalienável das políticas
públicas no Brasil. Este, sim, é um tema essencial para o debate eleitoral de
2014.
Publicado
em O GLOBO em 26.03.2014
Tasso Azevedo/Engenheiro florestal, consultor em sustentabilidade
http://www.brasilpost.com.br/
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